sábado, 26 de maio de 2012

Provas de amor não são amor.

Ouço, pelo menos uma vez por dia, a canção V do "Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé" do Zeca Baleiro. São poemas da Hilda Hist musicados pelo Baleiro. São lindos. Esse, em específico, me dói em lugares que eu não saberia tocar, se me pedissem que dissesse quais são. Diz a letra:

Quando Beatriz e Caiana te perguntarem, Dionísio
Se me amas, podes dizer que não. Pouco me importa
ser nada à tua volta, sombra, coisa esgarçada
No entendimento de tua mãe e irmã. A mim me importa,
Dionísio, o que dizes deitado, ao meu ouvido
E o que tu dizes nem pode ser cantado
Porque é palavra de luta e despudor.
E no meu verso se faria injúria
E no meu quarto se faz verbo de amor


Queria levar isso para o resto da minha vida, queria me educar assim, porque a minha razão me diz exatamente isso: provas de amor são quietas, caladas e particulares. Mas acho, no fundo, que eu sou piegas, brega e - por que não? - insegura. Tem aquela música, que nem é tão boa, que diz que provas de amor não são amor. Talvez não sejam, talvez nunca se equivalham. E eu admiro muito quem pode viver sem provas de amor. No meu lado mais vergonhoso de mim mesma, encaro as provas de amor (e, por favor, foto de perfil do casal não se encaixa no meu padrão de prova de amor, mas de ausência de senso de ridículo) como uma espécie de materialização do sentimento. Que deprimente, vocês pensam, e eu concordo. Mas que raça forte é essa que se sustenta firme num relacionamento sem declarações públicas e bregas de afeto? Eu admiro e invejo. E trabalho para um dia ser suficiente aquilo que eu sinto, e não aquilo que eu faço com o que eu sinto. 

Nessa minha particular idiotice, deixei de perceber algumas declarações; ignorei; acusei de frieza. Eu deixei passar muita coisa e não aprendi, ainda. É triste e sincero olhar para si e admitir que é quase uma saudade física ficar esperando gestos que não virão. Sigo fingindo que não, mas procurando por pequenas provas de amor esquecidas na rua...


"O que me faz sofrer é sentir que o que encheria qualquer mulher de felicidade, ou seja, ter o teu maravilhoso amor de homem e as coisas lindas que você me diz, tudo isto me causa ansiedade e me leva ao desespero. Quanto mais eu penso em me entregar a você novamente, tanto mais terror eu tenho do que seria de mim se teu amor ainda ardente se apagasse" Trecho de Eu sei que vou te amar  filme do Arnaldo Jabour, acho que a única coisa boa que ele fez na vida dele..