quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

é que o teu máximo, às vezes, é pouco.

Todo mundo é diferente, e era pra ser bom assim: a gente nunca tem tudo o que espera de quem quer. Nem do pai, nem do amigo, nem do orientador.  Não sei porque eu insisto, insistimos todos, em nos envolver com quem destoa. Em quem é completamente diferente.

97% dos piores clichês que eu escuto dizem: os opostos se atraem. Não duvido, é bem provável que eu me apaixone por aquilo que foge do meu comum, mas dai pra isso fazer bem custa. Ou vocês aprendem o meio termo, e eu juro que isso é possível, ou vai ser dor em cada minuto e em cada espaço: onde caberia sorriso, vai entrar um tapa, do destino, zombando de você e reiterando com sarcasmo: eu disse que não ia dar certo. Às vezes a explicação é astrológica, pode ser freudiana (o édipo, a electra, e as referências míticas que vem com a palavra complexo antes), pode ser o estresse do trabalho. Ou, antes disso tudo, pode ser só que é exatamente aquilo que a pessoa, ou a gente, tem a oferecer. Que pena.

E o que fazemos? Se é aquilo que ela tem a oferecer, e se é exatamente ela que a gente quer, temos duas opções: a kamikaze (e incrivelmente a mais escolhida) de tentar fazer a pessoa mudar; ou, ainda, acostumar-se ao jeito dela. Difícil, impossível, eu suponho, se o amor é grande. Não aprendi, nem com o pai, nem com os amigos, nem com o orientador. As pessoas insistem em permanecer do jeito exato que elas são. Eu, inclusive.

Se eu não duvido que haja diferentes jeitos de amar e inúmeros modos de mostrar isso, eu me pergunto e vos pergunto: por que a gente insiste em querer ser amado de um jeito específico? Porque em tudo que eu escrevi até agora, talvez, eu não acredite. Talvez não seja possível gostar e simplesmente não querer. É claro que a gente se irrita, é claro que às vezes a pessoa que fica linda de manhã com olheiras fica, de repente, sem graça, assim, ao meio da tarde.  Mas eu ainda não tenho certeza se é normal amar assim, sem loucura, sem um pingo de breguice. Talvez. É que eu acredito em desespero, em saudade, em abraço, em vontade louca de gritar. Acredito em medo de escrever, em escrever e nunca mandar. Quantas cartas eu vou juntar? Quantas vezes eu vou escrever um nome e apagá-lo freneticamente, como se eu pudesse, assim, apagá-lo de mim?

Acima de tudo eu acredito que o amor acaba, e às vezes rápido demais, e a gente insiste em dizer que é um jeito diferente de amar aquilo que, nem de longe, é amor..


Um comentário:

Adrilles Jorge disse...

Marcella, a execução do tal amor se baseia em uma diferença calculada em proximidade.As diferenças são adornos de personalidade que revelam uma mesma substância nas pessoas: todos querem amar e ser amados, basicamente. Só que o amor é uma construção, uma idealização que fazemos do objeto de nosso afeto,uma idealização baseada na construção de nossos gostos, idéias, ideais e personalidade. Mas o que não seria invenção ou idealização? Das invenções, o amor é a mais interessante e talvez a única que implique um sentido (fabricado, que seja) de querer viver. Mas, como invenção, o amor implica a criação de um tipo ideal para objeto de nosso amor e, no mais das vezes, acabamos nos perdendo em nossa criação, às vezes cerceando ou mesmo impedindo uma interessante realização afetiva e amorosa, exatamente pela criação de nossa própria mitologia fabricada pela nossa idealização. O espectro da vida é sempre maior que nosso filtro e sempre escapa ao nosso ideal. E sempre que a vida mesma sai fora deste nosso filtro, tendemos a ampliar as bases de nossa mitologia pessoal para ver se cabe mais algum tipo de idealização possível. Assim com o amor: é uma variante sempre inalcançável, enquanto utopia, fábrica, criação, mas é uma invenção necessária à sobrevivência, porque a vida mesma sem criação e, portanto, sem amor, torna-se inviável, insuportável. Não basta também o consolo do relativismo, de colocar em perspectiva todos os nossos gostos e nossas escolhas sempre num referencial relativo. Somos condenados a fazer escolhas, somos condenados a sermos livres e amar com base na criação de nossas personalidades mesmas e somos limitados por estas escolhas e pela criação de nossa personalidade também. Encare o amor como uma tentativa, sempre ao alcance da mão e sempre distante do toque; como uma tentativa exasperada, talvez infrutífera em sua execução, mas uma tentativa que nos mantém de pé, querendo alcançar algo que intuímos , idealizamos e criamos e que nos mantém vivos. Perceba que a única maturidade afetiva e intelectual possível é o reconhecimento de nosso eterno infantilismo nesse e em todos os demais assuntos.