domingo, 26 de fevereiro de 2012

Com expectativa, por favor.

Ouço, desde que me conheço por gente, que o melhor a se fazer é não criar expectativas, para depois o sofrimento ser menor. Acatei, durante toda a vida, esse conselho. De forma falsa, fingia não criar quaisquer expectativas e fingia surpresa a cada novidade que me era apresentada. Faz pouco tempo que assumi esse meu lado subversivo e antiético. Adoro expectativas. Tirem as crianças da sala, finjam que não me conhecem na rua, se quiserem, mas eu vou gritar aos quatro cantos: EU ADORO CRIAR EXPECTATIVA. Aí vem você com essa cara blasé de quem leva a vida como quem come clube-social (só por obrigação) e me diz: e a frustração? Eu engulo, não cuspo não. Se for pra frustrar, que fruste. Eu não vou perder o tesão da espera, se o melhor da viagem é preparar a mala. Se a parte mais gostosa de estar apaixonada são os minutos enlouquecedores antes de encontrar alguém. E se, depois, a pessoa não era exatamente aquilo que eu queria, ou se a viagem não foi assim tão maravilhosa, nos meus sonhos foi. Nos meus devaneios no meio da aula, ou no ponto de ônibus, foi. E ai valeu a pena cada sonho, cada texto feito, cada sorriso perdido. Nada é à toa. É a minha literatura particular, e ela é deliciosa. Além disso, nessa coisa doida que a gente chama de vida, mesmo criando expectativas existem coisas que a superam. E aí?

E aí qualquer loucura se justifica.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

declaração de amor a céu aberto


Por mais que a gente enlouqueça e queira fingir que é para sempre, e deseje agarrar, segurar, prender no porão ou num potinho, ou adie mil vezes o fim quando ele está em nossas mãos, não tem jeito: as pessoas passam. Falo com certa sanidade que em verdade não me pertence: sofro cada vez que lembro que nada é para sempre.

Mas em pequenos descuidos, quando a alma está acalmada, percebo o que de bom fica de quem foi. Outro dia comprei um CD do ACDC, e estranhei. Quatro anos antes eu não faria isso. Lembrei-me do menino que fez-me interessar por ACDC, pegar gosto por pipoca e ver filmes de Wes Anderson.

Hoje janto pipoca sempre que posso, e os filmes de Wes Anderson são dos meus preferidos.

Quando relacionamentos acabam, a gente tende a pensar em tudo que perdeu: tempo, dias, planos, amor. Mas tão bonito é descobrir, nos entraves do dia-a-dia, as coisas que ficaram, e que somaram ao que éramos, e que fazem o agora.




(E das coisas boas que ficaram, a Rosa é uma delas. O menino do Wes Anderson e do ACDC me apresentou a menina que, quem diria, seria minha amiga, sócia, e por vezes 'espelho')

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

é que o teu máximo, às vezes, é pouco.

Todo mundo é diferente, e era pra ser bom assim: a gente nunca tem tudo o que espera de quem quer. Nem do pai, nem do amigo, nem do orientador.  Não sei porque eu insisto, insistimos todos, em nos envolver com quem destoa. Em quem é completamente diferente.

97% dos piores clichês que eu escuto dizem: os opostos se atraem. Não duvido, é bem provável que eu me apaixone por aquilo que foge do meu comum, mas dai pra isso fazer bem custa. Ou vocês aprendem o meio termo, e eu juro que isso é possível, ou vai ser dor em cada minuto e em cada espaço: onde caberia sorriso, vai entrar um tapa, do destino, zombando de você e reiterando com sarcasmo: eu disse que não ia dar certo. Às vezes a explicação é astrológica, pode ser freudiana (o édipo, a electra, e as referências míticas que vem com a palavra complexo antes), pode ser o estresse do trabalho. Ou, antes disso tudo, pode ser só que é exatamente aquilo que a pessoa, ou a gente, tem a oferecer. Que pena.

E o que fazemos? Se é aquilo que ela tem a oferecer, e se é exatamente ela que a gente quer, temos duas opções: a kamikaze (e incrivelmente a mais escolhida) de tentar fazer a pessoa mudar; ou, ainda, acostumar-se ao jeito dela. Difícil, impossível, eu suponho, se o amor é grande. Não aprendi, nem com o pai, nem com os amigos, nem com o orientador. As pessoas insistem em permanecer do jeito exato que elas são. Eu, inclusive.

Se eu não duvido que haja diferentes jeitos de amar e inúmeros modos de mostrar isso, eu me pergunto e vos pergunto: por que a gente insiste em querer ser amado de um jeito específico? Porque em tudo que eu escrevi até agora, talvez, eu não acredite. Talvez não seja possível gostar e simplesmente não querer. É claro que a gente se irrita, é claro que às vezes a pessoa que fica linda de manhã com olheiras fica, de repente, sem graça, assim, ao meio da tarde.  Mas eu ainda não tenho certeza se é normal amar assim, sem loucura, sem um pingo de breguice. Talvez. É que eu acredito em desespero, em saudade, em abraço, em vontade louca de gritar. Acredito em medo de escrever, em escrever e nunca mandar. Quantas cartas eu vou juntar? Quantas vezes eu vou escrever um nome e apagá-lo freneticamente, como se eu pudesse, assim, apagá-lo de mim?

Acima de tudo eu acredito que o amor acaba, e às vezes rápido demais, e a gente insiste em dizer que é um jeito diferente de amar aquilo que, nem de longe, é amor..