domingo, 18 de dezembro de 2011

O problema da vergonha alheia!

Sofro de um mal que acomete a muitas pessoas sãs da sociedade contemporânea, cruel e impaciente com as diferenças: sofro, diariamente, de vergonha alheia. A vergonha alheia é um vício, um mal constante e irreparável: sem cura, a vergonha alheia só é passível de controle e tende a ser altamente contagioso, uma vez que o riso incontrolável, fruto da vergonha alheia, dissemina facilmente, especialmente em ambientes silenciosos e em situações pouco favoráveis ao humor. A vergonha alheia não escolhe etnia, sexo e idade e suas crises mais agudas, completamente involuntárias, podem ser silenciosas e não darem sinais: nem todos que sofrem de vergonha alheia apresentam, já de cara, um sarcasmo prévio.

A vergonha alheia é um mal antigo, é evidenciada já na Antiguidade Clássica, quando Platão já tinha uma tremenda vergonha alheia do Górgia: e é também a explicação para a famosa frase de Júlio César "até tu, Brutus", esta que poderia ser facilmente continuada com 'QUE VERGS, BRUTUS!' Apesar da sua ocorrências desde os mais remotos árabes, pais do conhecimento, a vergonha alheia tem ganhando notoriedade com um problema recorrente da pós-modernidade: o pseudismo! Pseudo-intelectuais; pseudo-garanhões; pseudo-sexy; pseudo-femme-fatalle; pseudo-insira aqui qualquer esteriótipo. (Pseudo: do grego, que indica falso, errôneo, para o interior paulista MARFA (MARFEITO) e para os pseudo-descolados, nada além de Ultra fake!).

Para além do pseudismo, há situações e fatores que favorecem e intensificam a vergonha alheia, entre todos os fatores, os prediletos de todos (inclusive dos pseudo-bebopracaralho) é o fator etílico: a nossa amada marvada é responsável por destruir algo que chamamos de BOM SENSO e permitir que as pessoas exibam suas opiniões e atitudes pouco coerentes e que, nós, sofredores da vergonha alheia, não tenhamos pudor em recriminá-las.

A vergonha alheia é uma doença que invade o sistema nervoso e apresenta particularidades de acordo com a situação. Explano: 
situação 1. O moço é lindo, simpático, sorridente, mãos grandes, puxando com você um papo cabeça quando faz a seguinte observação:
Borges? O nadador?
Você enche o copo, esboça um sorriso que não sai e pede licença. Vergonha alheia.

situação 2. O moço é lindo, simpático, sorridente, mãos grandes, puxando com você um papo cabeça, CONSEGUE CONVERSAR e te seduz. Você tira a roupa dele, e surge um sorriso compreensivo na sua face. Vergonha alheia.

situação 3. PUTA GALERA DESCOLADA VAMO FUMAR UM DO MAL PORQUE A GENTE É DESCOLADO E HIPPIE PRA CARALHO PORQUE EU SOU SUPER DESCOLADO SUPER MODERNO, COMO ASSIM AQUELA MENINA JÁ TA DEIXANDO ELE PASSAR A MÃO NA BUNDA DELE MAIOR BISCATE. Suas sobrancelhas franzem e você não controla: OI???
Vergonha alheia.

situação 4. GREVE IHUL, SOU SOCIALISTA, che guevara é nóis, tá ligado, sou do morro sou da galera, seu reaça filha da puta, quer uma carona no meu meriva novo, enquanto eu tiro minha camiseta furada da FORUM? É impossível resistir, enquanto sua boca emite sozinha: BELEZINTÃO, militonto.
Vergonha alheia.

situação 5. Gente, não tenho preconceito, só não quero que negros, lésbicas, gays sejam meus amigos. MAS LIBERDADE É ISSO AI, NÉ? Liberdade é você desencostar a mão do meu ombro agora e ir logo estudar.
Vergonha alheia.

situação 6. esse blog desamélia só tem biscate escrevendo, vou comentar de anônimo porque essa mulherada tem que tomar rumo, mais ai, eu super queria dar o cu, fazer menage e pegar as autoras! (hihihihihi) (a vingança nunca é plena, mas a autora é teimosa)
Vergonha alheia.

situação 7. Não seje impaciente.
Vergonha alheia.

(Nota da autora: todas as situações descritas ficam potencialmente pioradas quando a gente tem qualquer espécie de carinho pela pessoa)

Se você sofre de vergonha alheia, e tá cansada de explicar que Paulo Coelho não é bom e que, ok, regata pode ser confortável mas não é assim tão interessante, ou que é possível ser inteligente e querer ser professora, vem cá, me dá um abraço (que pedir abraço dá uma puta vergonha alheia!).

Pseudismos e alcoolismos a parte, todo mundo já causou vergonha alheia a alguém e é bem provável que você, leitor desse meu texto, tenha pulado vários parágrafos desse blog por não suportar a vergonha alheia que sentiu dessas escritoras tão pseudo-despudoradas.  Há uma única vergonha alheia intolerável é a intolerância: enquanto forem risadas as maiores repreensões sofridas, ou um sorriso sarcástico, o mundo pode ser suportado, vivido. Repreender, só com alegria. Preconceito mata, pessoal, bom humor salva!


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